quinta-feira, 18 de agosto de 2016

10 razões para escolher a Missa Tradicional

Texto original postado e traduzido pelo Blog Forma Extraordinária do Rito Romano. 

Professor Peter Kwasniewski, um dos escritores mais interessantes e prolíficos de língua inglesa, ressaltou em um artigo publicado no site OnePeterFive, 10 razões que nos ajudarão a superar as dificuldades de assistir e participar na Missa Tradicional em nossa localidade ou em outros lugares onde se celebre (como a falta de Missa em um horário acessível para a família, longas distâncias, as tensões com a família ou amigos ou até mesmo com sacerdotes que desencorajam, ... etc.) e, em consequência a ter uma opção preferencial pela Missa na Forma Extraordinária ou Gregoriano e fazer verdadeiros sacrifícios para promover e reunir toda a família aos pés do altar de Deus domingo após domingo.
Graças à tradução da recomendada Paix Liturgica podemos oferecer este artigo aos nossos leitores, recomendando sua difusão.

1. Sereis como os santos
Se se toma em consideração que a Missa Tradicional celebrada até 1970 era, em essência, a de São Gregório Magno (codificada até o ano de 600), estamos falando de cerca de 1400 anos da vida da Igreja, ou seja, a maior parte da história dos seus santos. As orações, hinos, leituras que alimentaram sua fé são as mesmas que alimentam a nossa. É a Missa de São Tomás de Aquino, que compôs o Ofício da festa de Corpus Christi, é a Missa à que assistia São Luis Rei de França até três vezes por dia, é a missa que consumia São Felipe Neri em êxtases de tal modo que era necessário sustentá-lo, é a Missa que se celebrada clandestinamente na Inglaterra e Irlanda no tempo das perseguições, é a Missa que São Damião de Molokai rezava na capela construída com as mãos leprosas ...

2. O que é verdadeiro para nós o é ainda mais para nossos filhos.
A Liturgia Tradicional forma a mente e o coração de nossos filhos no louvor divino mediante o exercício das virtudes da humildade, a obediência e a adoração silenciosa. Enche seus sentidos e imaginação com os sinais e símbolos sagrados, com “cerimônias místicas” como as chamavam o Concílio de Trento. Os pedagogos sabem que as crianças são mais sensíveis às ilustrações visuais que aos longos discursos. A solenidade da Liturgia Tradicional abrirá às crianças catequizadas a transcendência e fará nascer em muitos meninos o desejo de servir no altar.

3. A Missa universal
A Liturgia Tradicional não só estabelece um vínculo de unidade temporal entre nossa geração e as que nos precederam, mas também um vínculo de unidade espacial entre todos os fiéis do globo terrestre. Antes da reforma litúrgica, era um grande consolo para os viajantes descobrir que apesar das culturas e dos climas, a Missa era sempre a mesma em todas as partes, a mesma que o sacerdote de sua paróquia celebrava. Era também a mais evidente confirmação da autêntica catolicidadede seu catolicismo. Que contraste com certas paróquias atuais onde a Missa muda de um sacerdote a outro, de um domingo para o outro...!

4. Sabemos a que devemos nos ater
Uma cerimônia centrada no Sacrifício de Nosso Senhor no calvário. O silêncio, antes, durante e depois. Somente meninos coroinhas. Só mãos consagradas para tocar o Corpo de Cristo. Nada de extravagâncias nos ornamentos ou na música. Em outras palavras, a única atividade que o homem, quando não se celebra de maneira inadequada, não pode desviar de seu único objeto: o louvor do verdadeiro Deus. O Padre Jonathan Robinson, do Oratório de São Filipe Neri, em seu livro The Mass and Modernity (Ignatius Press, 2005), escrito antes de que se familiarizasse com a Liturgia Tradicional, diz que a atração principal e perene do que ainda era o Rito Antigo reside em que oferece “uma referência transcendente”, ainda que seja mal celebrada.[1]  Enquanto que, na Missa Nova, nada garante “a centralidade do mistério pascal”.[2]

5. É o original
O Rito Romano Tradicional tem uma orientação teo-cristocêntrica evidente, manifestada tanto na posição ad Orientem do celebrante como nos ricos textos do Missal que destacam o mistério trinitário, a divindade de Nosso Senhor e Seu Sacrifício na Cruz. Como bem o documentou o professor Lauren Pristas,[3] as orações do novo Missal carecem de clareza na expressão do dogma e da ascese católica; em troca, as orações do antigo Missal não tem ambiguidade nem equívocos. Cada vez é maior o numero de católicos que percebem até que ponto o reforma litúrgica foi precipitada e de como conduz à confusão por causa de suas opções quase ilimitadas e de sua descontinuidade com os catorzes séculos anteriores de oração da Igreja.

6. Um santoral superior
Nos debates litúrgicos, uma grande parte dos intercâmbios se centra, como é lógico, na defesa ou critica das mudanças feitas no ordinário da Missa. Mas não se deve esquecer que uma das diferenças mais importantes introduzidas no Missa de 1970 é o calendário, começando pelo santoral. O calendário de 1962 é uma maravilhosa introdução à história da Igreja, em especial da Igreja Primitiva, hoje tão frequentemente esquecida. Está ordenado tão providencialmente que a sucessão de certas festas forma conjuntos que ilustram uma faceta particular da santidade. Por sua parte, os criadores do calendário reformado eliminaram ou degradaram 200 Santos, começando por São Valentin. São Cristovão, o patrono dos viajantes, desapareceu com a desculpa de que não  haveria existido, apesar das inumeráveis vidas que salva cotidianamente. Privilegiou-se de forma sistemática a ciência histórica moderna frente às tradições orais e da Igreja. Esta preferência científica faz pensar  nas seguintes palavras de Chesterton em sua obra Ortodoxia: “É muito fácil compreender por que uma legenda se considera e deve ser considerada com maior respeito histórica. A legenda é, geralmente, uma obra da maioria dos membros da aldeia, uma maioria de homens sãos de espírito. O livro, em geral, é escrito por um único homem louco da aldeia”.

7. Um temporal superior
O temporal também padeceu alterações. O ciclo litúrgico é muito mais rico no calendário de 1962. Cada domingo do ano tem seu conteúdo próprio, que constitui uma espécie de marcador para os fiéis graças ao qual podem medir, ano após ano, seu progresso ou retrocesso espiritual. O calendário tradicional observa antigas circunstancias recorrente, como as Quatros Têmporas ou as Rogações que manifestam, além de nossa gratidão para com o Criador, nossa submissão alegre ao ciclo natural das estações e das coisas [naturais]. O calendário tradicional não tem um “tempo ordinário [comum]”, expressão pouco feliz se se considera que depois da Encarnação já nada mais pode ser “comum”; entretanto, tem um tempo depois da Epifania e um tempo depois de Pentecostes, o qual prolonga o eco das ditas festas. Como a Natividade e a Páscoa, Pentecostes, festa no menor, tem sua oitava durante a qual a Igreja conta com tempo suficiente para renovar seu ardor sob o influxo do fogo celestial. Sem esquecer o tempo da Septuagésima que ajuda ao povo de Deus a passar com suavidade da alegria da Natividade à dor da Quaresma. Todos esses tesouros preciosamente conservados nos conectam com a Igreja dos primeiros séculos...

8. Uma melhor introdução à Bíblia
A opinião corrente pretende que um dos progressos principais do novo Ordo é seu ciclo trienal e as leituras mais numerosas que supostamente ajudam a um melhor conhecimento da Bíblia. Porém, com isto se ignora que se é certo que a nova disposição multiplicou as leituras também destruiu o vínculo que as unia no antigo Ordo e que constituía a trama da Missa domingo a domingo. Em matéria de leituras bíblicas, o Ordo tradicional responde a dos princípios admiráveis: em primeiro lugar, as passagens não são escolhidas por seu próprio interesse (com o fim de cobrir a maior extensão possível da Escritura), mas para iluminar a festividade particular celebrada; em segundo lugar, o acento, mais que em uma maior alfabetização bíblica dos fiéis, está posto na “mistagogia”. Em outras palavras, as leituras da Missa não foram escolhidas concebidas como curso bíblico dominical, mas como uma iniciação progressiva aos mistérios da fé através da Liturgia. Seu número mais limitado, sua concisão, sua pertinência litúrgica e sua repetição anual às convertem em um agente muito eficaz da formação espiritual e em uma perfeita reparação para o Sacrifício Eucarístico.

9. A devoção à Sagrada Eucaristia
Naturalmente, a Forma Ordinária poder ser celebrada com reverência e devoção e no momento da comunhão pode ocorrer que só os ministros ordenados a distribuam aos fiéis na boca. Entretanto, todos os domingos, na maioria das paróquias ordinárias, se recorre aos ministros extraordinários para a distribuição da Sagrada Comunhão aos fiéis presentes, os quais, na maioria das vezes, a tomam, mas que a recebem com a mão. Estas duas atitudes minam profundamente o sacrossanto respeito devido ao Santíssimo Sacramento e, por isso mesmo, mina a compreensão do mistério eucarístico. E mesmo quando alguém comunga na boca, pondo-se na fila do sacerdote em vez da fila do ministro extraordinário, corre-se o risco de aproximar-se de Jesus Hóstia com a alma distraída, atormentada ou inclusive indiferente, o que não é melhor. Momento de tão grande solenidade, tradicionalmente muito edificante para as crianças, a comunhão termina, deste modo, por converter-se em um momento de agitação e confusão. O esquecimento da presença real de Nosso Senhor na Sagrada Eucaristia desemboca inexoravelmente na “protestantização” de nossa relação com Deus. Enquanto que o indulto da comunhão na mão não seja abolido, a Liturgia Tradicional é a única via segura para preservar e alimentar nossa compreensão do mistério da presença real de Nosso Senhor Jesus Cristo tanto na Sagrada Eucaristia como na Igreja e em nossas vidas de cristãos.
    
10. O mistério da Fé
Se tivéssemos de escolher somente uma razão que justificasse a preferência pela Forma Extraordinária, seria simplesmente que esta é a expressão mais perfeita do Mistério da fé. O que São Paulo chamava musterion e que a tradição latina designa com os termos mysterium sacramentum é tudo, menos um conceito marginal na Cristandade. A incrível revelação de Deus aos homens, ao longo de toda a história e em particular na pessoa de Cristo, é um mistério no sentido mais elevado do termo: é a revelação de uma realidade perfeitamente inteligível, mas sempre inesgotável, sempre luminosa, mas que provoca certa cegueira por causa de sua própria luminosidade. As cerimônias litúrgicas que nos põem em contato com Deus deveriam levar o selo  de sua essência misteriosa eterna e infinita. Por sua língua sagrada, seu ordenamento, sua música e a postura do sacerdote, a Forma Extraordinária do Rito Romano tem, sem dúvida alguma, esse selo. Ao favorecer o sentido do sagrado, a Missa Tradicional conserva intacto o Mistério da fé.[4]  
Texto original em espanhol aqui 


[1] Jonathan Robinson, a Massa and Modernidade, Ignatius Press, 2005, p. 307.
[2]  Ibid., p. 311.
[3] Coleta do Missal Romano: Um Estudo Comparativo dos domingos em épocas apropriadas antes e depois do Concílio Vaticano II, Londres, T & T Clark, 2013.
[4] Durante muitos séculos – e inclusive, segundo Santo Tomás de Aquino, desde os Apóstolos – o sacerdote disse Mysterium Fidei no momento da consagração do cálice.

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