terça-feira, 27 de dezembro de 2016

"Comunhão e adultério persistente é uma heresia" Cardeal Brandmüller


Cardeal Kasper diz que tudo está muito claro em Amoris Laetitia.
As recentes declarações dos cardeais Brandmüller, Kasper e Burke definem mais claramente as posições opostas sobre a comunhão dos divorciados em uma nova união e a necessidade de uma resposta para as dubia sobre esse assunto. 



Cardeal Brandmüller, um dos quatro signatários das dubia apresentadas ao Santo Padre acerca desta questão, respondeu às perguntas da revista alemã Der Spiegel com o que, talvez, seja a frase mais clara proferida até o momento: “quem pense que o adultério persistente e a recepção da sagrada Comunhão são compatíveis é um herege e está promovendo um cisma”. Além disso, o cardeal afirmou que essa doutrina não pode ser mudada porque “de acordo com o Apóstolo Paulo, somos administradores dos mistérios de Deus e não os seus donos.”

Esta afirmação parece responder a prática, entre outros, dos bispos argentinos da região pastoral de Buenos Aires, que em uma recente carta consideravam que “se se chaga a reconhecer que, num caso particular, há limitações que atenuem a responsabilidade e a culpa (cf. 301-302), particularmente quando uma pessoa considere que cairia em uma subsequente falta prejudicial para as crianças da nova união, Amoris Laetitia abre a possibilidade de acesso [dos divorciados recasados em uma nova união] aos sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia”. De acordo com esses bispos, o ensinamento tradicional da Igreja, lembrado por São João Paulo II e Bento XVI, de que estes divorciados devem viver em continência, se querem acesso aos sacramentos, somente teria força quando “as circunstâncias concretas de um parceiro o façam viável”.
Com estas declarações, o cardeal Walter Brandmüller também responde aqueles que, como Mons. Papamanolis, acusavam os quatro cardeais e suas dubia de cismáticos e hereges, observando que o cisma está causado por aqueles que se desviam da doutrina católica e não por aqueles que a defendem e recordam, em cumprimento de sua missão como sucessores dos Apóstolos.
Por sua vez, o cardeal Walter Kasper, o maior expoente da proposta para mudar a prática tradicional da Igreja sobre casamento e o divórcio, fez declarações no sentido oposto. Em entrevista publicada pela Rádio Vaticano, o cardeal alemão afirmou que o papa já tinha falado claramente tanto na exortação pós-sinodal Amoris Laetitia como na carta posterior aos bispos argentinos, na qual confirmou a sua interpretação da exortação.
Ele também indicou que esta nova prática é um “desenvolvimento homogêneo” da doutrina de São João Paulo II. Esse “desenvolvimento”, no entanto, parece consistir em uma forma de agir diametralmente oposta à exigida pela Familiaris consortio: “A Igreja, no entanto, com base nas Escrituras reafirma a sua prática de não admitir à comunhão eucarística para os divorciados que se casam novamente. São eles os que não podem ser admitidos, uma vez que o seu estado e situação de vida contradizem objetivamente a união de amor entre Cristo e a Igreja, que é significada e realizada na Eucaristia. […] Reconciliação no sacramento da Penitência — que lhes abriria o caminho para o sacramento eucarístico — só poderia dar-se unicamente àqueles que, arrependidos de ter violado o sinal da Aliança e da fidelidade a Cristo, estão sinceramente dispostos a uma forma de vida que não contradiz a indissolubilidade do matrimônio”(FC 84).
De sua parte, o cardeal Burke deu uma entrevista a LifeSiteNews [nota de Sensus fidei: cf. Cardeal Burke: Correção Formal Provavelmente Ocorrerá em 2017] sobre a possibilidade de que o Papa não responde as dubia apresentadas sobre a interpretação correta de Amoris Laetitia. Na entrevista, o cardeal Patrono da Soberana Ordem de Malta indicou que “as dubia carecem de uma resposta, porque se referem aos próprios fundamentos da vida moral e o constante ensinamento da Igreja no que diz respeito ao bem e ao mal, em relação às várias realidades sagradas, como o matrimônio e a Comunhão, entre outras”.
Quanto à possível correção ao Papa que o cardeal Burke mencionara alguns dias antes, explicou que “trata-se de uma instituição antiga na Igreja.” Enquanto isso não aconteceu “nos últimos séculos, podem ser fornecidos exemplos e é realizada com absoluto respeito ao ministério do Sucessor de São Pedro.” Confrontados com aqueles que apresentam as dubia e a hipotética correção como uma rebelião ou uma cisma, o cardeal explica que “a correção ao Papa é realmente uma maneira de salvaguardar esse ministério e seu exercício”.
Ele também disse que era necessário manter firmemente os ensinamentos de João Paulo II na Familiaris Consortio, “sem importar com o que digam os meios de comunicação ou outros, nem tampouco se alguma citação do próprio Papa parece dizer algo diferente. Devemos testemunhar o que a Igreja sempre ensinou e praticou e, assim, estaremos tranquilos, não criaremos confusão nem divisão, como muitas vezes pode acontecer na Igreja, se você não age assim.”
O cardeal americano também ofereceu alguns detalhes formais sobre a possível correção: “seria direta, como as dubia, mas neste caso não se trataria de fazer perguntas, mas confrontar as declarações confusas com a doutrina e a prática constante da Igreja e, por conseguinte, corrigir Amoris Laetitia“. Com relação à data possível, ele disse que estavamos “nos últimos dias antes da festa da Natividade do Senhor, que são dias de intensas graças, e então temos a oitava da solenidade e as celebrações do início do novo ano, todo o mistério do nascimento do Senhor e sua Epifania, então, provavelmente, ocorreria algum tempo depois disso”.
A respeito de como viver este momento difícil para ele mesmo e para os católicos, o cardeal Burke recordou que “temos de aderir mais fortemente ao ensinamento da Igreja, à sua liturgia sagrada, à nossa vida de oração e devoção e a disciplina que salvaguarda e promove nossa vida em Cristo”. Na mesma linha, ele incentivou “os fiéis a não desanimarem” e que “estudem a fé e se introduzam o quanto possível na vida litúrgica da Igreja e se esforcem- por levar uma vida regida pela fé.”
Posteriormente, respondendo a perguntas de Vatican Insider, o cardeal Brandmüller explicou que o cardeal Burke “não disse que uma possível correção fraterna, como a citada em Gálatas 2,11-14, deva realizar-se publicamente.” Em vez disso, o cardeal Burke estaria “convencido de que, em primeira instância, a correção fraterna deveria ocorrer in caritatis camera (ou seja, em privado). Em qualquer caso, ele disse que os cardeais esperam “a resposta às dubia, uma vez que a falta de resposta poderia ser vista por amplos setores da Igreja como uma recusa a se aderir clara articulada à doutrina definida.”
Via: Sensus Fidei

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