quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Francisco se envolve em briga política

Trump responde ao Papa. “Vai desejar que eu seja Presidente se o Vaticano for atacado pelo Estado Islâmico”


Francisco disse que Trump "não é cristão" por defender a construção de um muro na fronteira entre os EUA e o México. O candidato republicano diz que a posição do Papa é "vergonhosa".
Donald Trump já respondeu às duras críticas feitas pelo Papa contra as suas posições anti-imigração. Afirma que Francisco vai "desejar e rezar" que ele seja Presidente dos Estados Unidos se o Vaticano for atacado pelos terroristas do autoproclamado Estado Islâmico.
“Se e quando o Estado Islâmico atacar o Vaticano, que é o principal troféu do Estado Islâmico, toda a gente sabe, posso prometer que o Papa só poderá desejar e rezar que Donald Trump fosse o Presidente”, declarou o candidato à nomeação pelo Partido Republicano, num discurso na Carolina do Sul. 
O magnata que quer suceder ao democrata Barack Obama na Casa Branca considera que a posição assumida pelo Papa é "vergonhosa".
Os mexicanos devem ficar envergonhados por utilizaram o Papa como um “peão” dos seus interesses em relação aos Estados Unidos, acusa Donald Trump.
O candidato presidencial reage assim às críticas feitas pelo Papa, esta quinta-feira, durante a viagem de regresso de uma visita de cinco dias ao México.
Francisco declarou que Donald Trump "não é cristão" por defender a construção de um muro ao longo de toda a fronteira entre os Estados Unidos e o México para travar a entrada de imigrantes ilegais.
Trump assume-se como cristão, mas o Papa duvida: “Uma pessoa que só pensa em fazer muros, seja onde for, em vez de fazer pontes, não é cristão. Isso não é do Evangelho.”
Via: Renascença

Francisco defende uso de pilulas abortivas

Em uma entrevista coletiva no avião que o levou do México para o Vaticano, o papa Francisco defendeu métodos contraceptivos como um “mal menor” para combater a disseminação do vírus Zika, mas criticou o uso do aborto para evitar o nascimento de crianças com microcefalia.

"O aborto não é um problema ideológico, é um problema humano, um problema médico; é matar uma pessoa para salvar outra, no melhor dos casos, ou para deixá-la bem. É um mal em si mesmo", declarou o Pontífice.

Contudo, segundo Jorge Bergoglio, não se deve confundir o “mal para evitar a gravidez” com a interrupção da gestação. "Sobre o mal menor, evitar a gravidez, falemos em termos de conflito entre o quinto e o sexto mandamentos ['não matar' e 'não pecar contra a castidade']. Paulo VI, o grande, em uma situação difícil na África, permitiu às freiras o uso de anticoncepcionais em casos de violência", declarou Francisco aos jornalistas presentes em seu avião.

No início de fevereiro, o alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Zeid Al Hussein, havia pedido a revogação de leis que limitassem o acesso a serviços de saúde sexual e reprodutiva, inclusive ao aborto e à contracepção de emergência, para fazer frente a disseminação do Zika, que pode causar microcefalia em fetos.

Além disso, no Brasil, algumas personalidades, como o ex-ministro da Saúde José Gomes Temporão (PSB-RJ), defendem que as mulheres tenham direito de interromper a gestação de fetos com malformação cerebral.


"Evitar a gravidez não é um mal absoluto. Em certos casos,anti como esse do vírus Zika ou aquele que mencionei, do beato Paulo VI, isso fica claro", ressaltou o Papa.

Via: Agencia Brasil 

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Greco-católicos se irritam com declaração conjunta de Francisco e Kirill

Declaração conjunta. Fala o patriarca greco-católico.

O Arcebispo-Mor de Kiev-Halytch, Dom Sviatoslav Shevchuk, chefe da Igreja Greco-Católica, fala sobre a declaração conjunta entre o Papa Francisco e o chefe da Igreja Ortodoxa Russa. 
Sviatoslav tem o título patriarca outorgado por seu próprio povo, embora, por razões ecumênicas, não o tenha reconhecido pelo Vaticano. 
Os greco-católicos, chamados pejorativamente de “uniatas” por terem reconhecido a primazia Papal, pagam um alto preço por sua fidelidade – além de massacrados na Ucrânia por Putin, agora se mostram decepcionados com o Papa Francisco . 
* * *
Por Opus Publicum | Tradução: Gercione Lima – FratresInUnum.com: Sua Beatitude Sviatoslav, Patriarca de Kyev-Halych e Toda Russia, emitiu uma declaração oficial sobre a Declaração Conjunta assinada ontem pelo Papa Francisco e o Patriarca Kirill, em Havana, Cuba. O texto completo das declarações do Patriarca -em ucraniano – está disponível a partir do site oficial da Igreja Greco-Católica ucraniana. «Зустріч, яка не відбулася?» – Блаженніший Святослав
Enquanto Sviatoslav oferece palavras de elogio à Declaração Conjunta, esse louvor é diminuído pelo fato de que ele não foi consultado sobre o texto, apesar de ser membro do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos.
Novembro de 2013: o Arcebispo Maior dos Greco Católicos é recebido pelo Papa Francisco na Basílica de São Pedro.
Padre Atanásio McVay, um padre católico-grego, gentilmente concedeu-nos permissão para postar no Opus Publicum a sua tradução dos três parágrafos finais da declaração de Sua Beatitude Sviatoslav. Além disso, acrescentou as referências bíblicas no final. Esperamos que uma tradução completa das palavras do Patriarca Sviatoslav estejam disponíveis em breve.
“Sem dúvida, este texto está causando profunda decepção entre muitos dos fiéis de nossa Igreja e entre os cidadãos conscientes da Ucrânia. Presentemente, muitos me contataram sobre isso e disseram que se sentem traídos pelo Vaticano, desapontados com as meias-verdades contidas neste documento, e até mesmo chegam a vê-lo como apoio indireto da Sé Apostólica à agressão russa contra a Ucrânia. Certamente, eu posso entender esses sentimentos.
Não obstante, eu procuro encorajar os nossos fiéis a não dramatizar muito sobre essa declaração e não exagerar sua importância para a vida da Igreja. Nós já passamos pela experiência de mais do que uma declaração desse tipo e sobrevivemos a todas. Nós sobreviveremos a essa também. Precisamos lembrar que nossa unidade e comunhão plena com o Santo Padre, o Sucessor do Apóstolo Pedro, não é o resultado de um acordo político ou compromisso diplomático, ou que se deve à clareza do texto de uma declaração conjunta. Esta unidade e comunhão com o Pedro de hoje é uma característica essencial da nossa fé. É a ele, o papa Francisco, e a cada um de nós hoje, que Cristo dirige aquelas palavras do Evangelho de Lucas: ” Simão, Simão, eis que Satanás pediu insistentemente para vos peneirar como trigo; eu, porém, roguei por ti, a fim de que tua fé não desfaleça. E tu, quando te converteres, confirma teus irmãos…”
É por esta unidade com a Sé Apostólica de Roma que os mártires e confessores da fé da Igreja do século XX deram as suas vidas e selaram o seu sangue. Precisamente na comemoração do 70º aniversário da Pseudo-Sínodo de Lviv compartilhamos a força do testemunho, de seu sacrifício que, em nossos dias, muitas vezes parece ser uma pedra de tropeço – A pedra que os construtores das relações internacionais muitas vezes rejeitaram.
Mas é o Cristo, a rocha estabelecida na fé de Pedro, que o Senhor colocou como pedra angular para o futuro de todos os Cristãos. E vai ser “uma maravilha aos nossos olhos.” (Salmo 118: 22; Mt 21:42; Lc 20: 17L Act 04:11; Ep 02:20; 1 Pedro 2: 7)
Via: FratresInUnum.com

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Papa e Patriarca Russo assinam histórica declaração conjunta

Cidade do Vaticano (RV) – Após a reunião a portas fechadas, o Papa e o Patriarca Kirill assinaram uma histórica declaração conjunta que marca uma nova era nas relações entre a Igreja católica e o Patriarcado Russo.
Em 30 itens, Francisco e o Patriarca Kirill passaram em resenha e assinaram a concordância sobre temas-chave para a reaproximação entre católicos e ortodoxos.
Entre os tópicos principais, a preocupação comum sobre a situação dos cristãos no Oriente Médio, o protagonismo de Cuba e o futuro das relações entre ortodoxos e greco-católicos.
“Os resultados da conversa me permitem assegurar que ambas as Igrejas podem cooperar conjuntamente defendendo os cristãos no mundo inteiro e, com plena responsabilidade, trabalhar conjuntamente, para que não se faça guerra, para que se respeite a vida humana no mundo inteiro”, declarou Kirill.
“Falamos claramente, sem meias palavras”, disse Francisco. "Senti a consolação do Espírito neste diálogo. São iniciativas viáveis que se podem realizar", concluiu o Pontífice após a assinatura da declaração. 
Abaixo, publicamos a íntegra do documento histórico:
Declaração comum do Papa Francisco e do Patriarca Kirill de Moscovo e de toda a Rússia
"A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós" (2 Cor 13, 13).
1.         Por vontade de Deus Pai de quem provém todo o dom, no nome do Senhor nosso Jesus Cristo e com a ajuda do Espírito Santo Consolador, nós, Papa Francisco e Kirill, Patriarca de Moscou e de toda a Rússia, encontramo-nos, hoje, em Havana. Damos graças a Deus, glorificado na Trindade, por este encontro, o primeiro na história.
Com alegria, encontramo-nos como irmãos na fé cristã que se reúnem para “falar de viva voz” (2 Jo 12), coração a coração, e analisar as relações mútuas entre as Igrejas, os problemas essenciais de nossos fiéis e as perspectivas de progresso da civilização humana
Cuba
2.         O nosso encontro fraterno teve lugar em Cuba, encruzilhada entre Norte e Sul, entre Leste e Oeste. A partir desta ilha, símbolo das esperanças do “Novo Mundo” e dos acontecimentos dramáticos da história do século XX, dirigimos a nossa palavra a todos os povos da América Latina e dos outros continentes.
Alegramo-nos porque aqui cresce, de forma dinâmica, a fé cristã. O forte potencial religioso da América Latina, a sua tradição cristã secular, presente na experiência pessoal de milhões de pessoas, são a garantia de um grande futuro para esta região.
3.         Encontrando-nos longe das antigas disputas do “Velho Mundo”, sentimos mais fortemente a necessidade de um trabalho comum entre católicos e ortodoxos, chamados a dar ao mundo, com mansidão e respeito, razão da esperança que está em nós (cf. 1 Ped 3, 15).
Tradição comum
4.         Damos graças a Deus pelos dons que recebemos da vinda ao mundo do seu único Filho. Partilhamos a Tradição espiritual comum do primeiro milênio do cristianismo. As testemunhas desta Tradição são a Virgem Maria, Santíssima Mãe de Deus, e os Santos que veneramos. Entre eles, contam-se inúmeros mártires que testemunharam a sua fidelidade a Cristo e se tornaram “semente de cristãos”.
5.         Apesar desta Tradição comum dos primeiros dez séculos, há quase mil anos que católicos e ortodoxos estão privados da comunhão na Eucaristia. Estamos divididos por feridas causadas por conflitos de um passado distante ou recente, por divergências – herdadas dos nossos antepassados – na compreensão e explicitação da nossa fé em Deus, uno em três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. Deploramos a perda da unidade, consequência da fraqueza humana e do pecado, ocorrida apesar da Oração Sacerdotal de Cristo Salvador: “Para que todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em Mim e Eu em Ti; para que assim eles estejam em Nós” (Jo 17, 21).
Superar divergências
6.         Conscientes da permanência de numerosos obstáculos, esperamos que o nosso encontro possa contribuir para o restabelecimento desta unidade querida por Deus, pela qual Cristo rezou. Que o nosso encontro inspire os cristãos do mundo inteiro a rezar ao Senhor, com renovado fervor, pela unidade plena de todos os seus discípulos. Em um mundo que espera de nós não apenas palavras mas gestos concretos, possa este encontro ser um sinal de esperança para todos os homens de boa vontade!
7.         Determinados a realizar tudo o que seja necessário para superar as divergências históricas que herdamos, queremos unir os nossos esforços para testemunhar o Evangelho de Cristo e o patrimônio comum da Igreja do primeiro milênio, respondendo em conjunto aos desafios do mundo contemporâneo. Ortodoxos e católicos devem aprender a dar um testemunho concorde da verdade, em áreas onde isso seja possível e necessário. A civilização humana entrou em um período de mudança de época. A nossa consciência cristã e a nossa responsabilidade pastoral não nos permitem ficar inertes perante os desafios que requerem uma resposta comum.
Oriente Médio
8.         O nosso olhar dirige-se, em primeiro lugar, para as regiões do mundo onde os cristãos são vítimas de perseguição. Em muitos países do Oriente Médio e do Norte da África, os nossos irmãos e irmãs em Cristo veem exterminadas as suas famílias, aldeias e cidades inteiras. As suas igrejas são barbaramente devastadas e saqueadas; os seus objetos sagrados profanados, os seus monumentos destruídos. Na Síria, no Iraque e em outros países do Oriente Médio, constatamos, com amargura, o êxodo maciço dos cristãos da terra onde começou a espalhar-se a nossa fé e onde eles viveram, desde o tempo dos apóstolos, em conjunto com outras comunidades religiosas.
9.         Pedimos a ação urgente da Comunidade internacional para prevenir uma nova expulsão dos cristãos do Oriente Médio. Ao levantar a voz em defesa dos cristãos perseguidos, queremos expressar a nossa compaixão pelas tribulações sofridas pelos fiéis de outras tradições religiosas, também eles vítimas da guerra civil, do caos e da violência terrorista.
10.       Na Síria e no Iraque, a violência já causou milhares de vítimas, deixando milhões de pessoas sem casa nem meios de subsistência. Exortamos a Comunidade internacional a unir-se para pôr fim à violência e ao terrorismo e, ao mesmo tempo, a contribuir por meio do diálogo para um rápido restabelecimento da paz civil. É essencial garantir uma ajuda humanitária em larga escala às populações martirizadas e a tantos refugiados nos países vizinhos.
Pedimos a quantos possam influir sobre o destino das pessoas raptadas, entre as quais se encontram os Metropolitas de Aleppo, Paulo e João Ibrahim, sequestrados no mês de Abril de 2013, que façam tudo o que é necessário para a sua rápida libertação.
Acordo de Paz
11.       Elevamos as nossas súplicas a Cristo, Salvador do mundo, pelo restabelecimento da paz no Oriente Médio, que é “fruto da justiça” (Is 32, 17), a fim de que se reforce a convivência fraterna entre as várias populações, as Igrejas e as religiões lá presentes, pelo regresso dos refugiados às suas casas, a cura dos feridos e o repouso da alma dos inocentes que morreram.
Com um ardente apelo, dirigimo-nos a todas as partes que possam estar envolvidas nos conflitos pedindo-lhes que deem prova de boa vontade e se sentem à mesa das negociações. Ao mesmo tempo, é preciso que a Comunidade internacional faça todos os esforços possíveis para pôr fim ao terrorismo valendo-se de ações comuns, conjuntas e coordenadas. Apelamos a todos os países envolvidos na luta contra o terrorismo, para que atuem de maneira responsável e prudente. Exortamos todos os cristãos e todos os crentes em Deus a suplicarem, fervorosamente, ao Criador providente do mundo que proteja a sua criação da destruição e não permita uma nova guerra mundial. Para que a paz seja duradoura e esperançosa, são necessários esforços específicos tendentes a redescobrir os valores comuns que nos unem, fundados no Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.
12.       Curvamo-nos perante o martírio daqueles que, à custa da própria vida, testemunham a verdade do Evangelho, preferindo a morte à apostasia de Cristo. Acreditamos que estes mártires do nosso tempo, pertencentes a várias Igrejas mas unidos por uma tribulação comum, são um penhor da unidade dos cristãos. É a vós, que sofreis por Cristo, que se dirige a palavra do Apóstolo: “Caríssimos, (...) alegrai-vos, pois assim como participais dos padecimentos de Cristo, assim também rejubilareis de alegria na altura da revelação da sua glória” (1 Ped 4, 12-13).
Diálogo e Europa
13.       Nesta época preocupante, é indispensável o diálogo inter-religioso. As diferenças na compreensão das verdades religiosas não devem impedir que pessoas de crenças diversas vivam em paz e harmonia. Nas circunstâncias atuais, os líderes religiosos têm a responsabilidade particular de educar os seus fiéis num espírito respeitador das convicções daqueles que pertencem a outras tradições religiosas. São absolutamente inaceitáveis as tentativas de justificar ações criminosas com slogans religiosos. Nenhum crime pode ser cometido em nome de Deus, “porque Deus não é um Deus de desordem, mas de paz” (1 Cor 14, 33).
14.       Ao afirmar o alto valor da liberdade religiosa, damos graças a Deus pela renovação sem precedentes da fé cristã que acontece na Rússia e em muitos países da Europa Oriental, onde, durante algumas décadas, dominaram os regimes ateus. Hoje as cadeias do ateísmo militante estão quebradas e, em muitos lugares, os cristãos podem livremente confessar a sua fé. Em um quarto de século foram construídas dezenas de milhares de novas igrejas, e abertos centenas de mosteiros e escolas teológicas. As comunidades cristãs desenvolvem uma importante atividade sócio-caritativa, prestando variada assistência aos necessitados. Muitas vezes trabalham lado a lado ortodoxos e católicos; atestam a existência dos fundamentos espirituais comuns da convivência humana, ao testemunhar os valores do Evangelho.
15.       Ao mesmo tempo, estamos preocupados com a situação em muitos países onde os cristãos se debatem cada vez mais frequentemente com uma restrição da liberdade religiosa, do direito de testemunhar as suas convicções e da possibilidade de viver de acordo com elas. Em particular, constatamos que a transformação de alguns países em sociedades secularizadas, alheias a qualquer referência a Deus e à sua verdade, constitui uma grave ameaça à liberdade religiosa. É fonte de inquietação para nós a limitação atual dos direitos dos cristãos, se não mesmo a sua discriminação, quando algumas forças políticas, guiadas pela ideologia de um secularismo frequentemente muito agressivo, procuram relegá-los para a margem da vida pública.
16.       O processo de integração europeia, iniciado depois de séculos de sangrentos conflitos, foi acolhido por muitos com esperança, como uma garantia de paz e segurança. Todavia, convidamos a manter-se vigilantes contra uma integração que não fosse respeitadora das identidades religiosas. Embora permanecendo abertos à contribuição de outras religiões para a nossa civilização, estamos convencidos de que a Europa deve permanecer fiel às suas raízes cristãs. Pedimos aos cristãos da Europa Oriental e Ocidental que se unam para testemunhar em conjunto Cristo e o Evangelho, de modo que a Europa conserve a própria alma formada por dois mil anos de tradição cristã.
Família
17.       O nosso olhar volta-se para as pessoas que se encontram em situações de grande dificuldade, em condições de extrema necessidade e pobreza, enquanto crescem as riquezas materiais da humanidade. Não podemos ficar indiferentes à sorte de milhões de migrantes e refugiados que batem à porta dos países ricos. O consumo desenfreado, como se vê em alguns países mais desenvolvidos, está gradualmente esgotando os recursos do nosso planeta. A crescente desigualdade na distribuição dos bens da Terra aumenta o sentimento de injustiça perante o sistema de relações internacionais que se estabeleceu.
18.       As Igrejas cristãs são chamadas a defender as exigências da justiça, o respeito pelas tradições dos povos e uma autêntica solidariedade com todos os que sofrem. Nós, cristãos, não devemos esquecer que “o que há de louco no mundo é que Deus escolheu para confundir os sábios; e o que há de fraco no mundo é que Deus escolheu para confundir o que é forte. O que o mundo considera vil e desprezível é que Deus escolheu; escolheu os que nada são, para reduzir a nada aqueles que são alguma coisa. Assim, ninguém se pode vangloriar diante de Deus” (1 Cor 1, 27-29).
19.       A família é o centro natural da vida humana e da sociedade. Estamos preocupados com a crise da família em muitos países. Ortodoxos e católicos partilham a mesma concepção da família e são chamados a testemunhar que ela é um caminho de santidade, que testemunha a fidelidade dos esposos nas suas relações mútuas, a sua abertura à procriação e à educação dos filhos, a solidariedade entre as gerações e o respeito pelos mais vulneráveis.
20.       A família funda-se no matrimônio, ato de amor livre e fiel entre um homem e uma mulher. É o amor que sela a sua união e os ensina a acolher-se reciprocamente como um dom. O matrimônio é uma escola de amor e fidelidade. Lamentamos que outras formas de convivência já estejam postas ao mesmo nível desta união, ao passo que o conceito, santificado pela tradição bíblica, de paternidade e de maternidade como vocação particular do homem e da mulher no matrimônio, seja banido da consciência pública.
21.       Pedimos a todos que respeitem o direito inalienável à vida. Milhões de crianças são privadas da própria possibilidade de nascer no mundo. A voz do sangue das crianças não nascidas clama a Deus (cf. Gn 4, 10).
O desenvolvimento da chamada eutanásia faz com que as pessoas idosas e os doentes comecem a sentir-se um peso excessivo para as suas famílias e a sociedade em geral.
Estamos preocupados também com o desenvolvimento das tecnologias reprodutivas biomédicas, porque a manipulação da vida humana é um ataque aos fundamentos da existência do homem, criado à imagem de Deus. Consideramos nosso dever lembrar a imutabilidade dos princípios morais cristãos, baseados no respeito pela dignidade do homem chamado à vida, segundo o desígnio do Criador.
Juventude
22.       Hoje, desejamos dirigir-nos de modo particular aos jovens cristãos. Vós, jovens, tendes o dever de não esconder o talento na terra (cf. Mt 25, 25), mas de usar todas as capacidades que Deus vos deu para confirmar no mundo as verdades de Cristo, encarnar na vossa vida os mandamentos evangélicos do amor de Deus e do próximo. Não tenhais medo de ir contra a corrente, defendendo a verdade de Deus, à qual estão longe de se conformar sempre as normas secularizadas de hoje.
23.       Deus ama-vos e espera de cada um de vós que sejais seus discípulos e apóstolos. Sede a luz do mundo, de modo que quantos vivem ao vosso redor, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está no Céu (cf. Mt 5, 14.16). Haveis de educar os vossos filhos na fé cristã, transmitindo-lhes a pérola preciosa da fé (cf. Mt 13, 46), que recebestes dos vossos pais e antepassados. Lembrai-vos que “fostes comprados por um alto preço” (1 Cor 6, 20), a custo da morte na cruz do Homem-Deus Jesus Cristo.
24.       Ortodoxos e católicos estão unidos não só pela Tradição comum da Igreja do primeiro milênio mas também pela missão de pregar o Evangelho de Cristo no mundo de hoje. Esta missão exige o respeito mútuo entre os membros das comunidades cristãs e exclui qualquer forma de proselitismo.
Não somos concorrentes, mas irmãos: por esta certeza, devem ser guiadas todas as nossas ações recíprocas e em benefício do mundo exterior. Exortamos os católicos e os ortodoxos de todos os países a aprender a viver juntos na paz e no amor e a ter “os mesmos sentimentos, uns com os outros” (Rm 15, 5). Por isso, é inaceitável o uso de meios desleais para incitar os crentes a passar de uma Igreja para outra, negando a sua liberdade religiosa ou as suas tradições. Somos chamados a pôr em prática o preceito do apóstolo Paulo: “Tive a maior preocupação em não anunciar o Evangelho onde já era invocado o nome de Cristo, para não edificar sobre fundamento alheio” (Rm 15, 20).
Greco-católicos
25.       Esperamos que o nosso encontro possa contribuir também para a reconciliação, onde existirem tensões entre greco-católicos e ortodoxos. Hoje, é claro que o método do “uniatismo” do passado, entendido como a união de uma comunidade à outra separando-a da sua Igreja, não é uma forma que permita restabelecer a unidade. Contudo, as comunidades eclesiais surgidas nestas circunstâncias históricas têm o direito de existir e de empreender tudo o que é necessário para satisfazer as exigências espirituais dos seus fiéis, procurando ao mesmo tempo viver em paz com os seus vizinhos. Ortodoxos e greco-católicos precisam de reconciliar-se e encontrar formas mutuamente aceitáveis de convivência.
26.       Deploramos o conflito na Ucrânia que já causou muitas vítimas, provocou inúmeras tribulações a gente pacífica e lançou a sociedade em uma grave crise econômica e humanitária. Convidamos todas as partes do conflito à prudência, à solidariedade social e à atividade de construir a paz. Convidamos as nossas Igrejas na Ucrânia a trabalhar por se chegar à harmonia social, abster-se de participar no conflito e não apoiar ulteriores desenvolvimentos do mesmo.
27.       Esperamos que o cisma entre os fiéis ortodoxos na Ucrânia possa ser superado com base nas normas canônicas existentes, que todos os cristãos ortodoxos da Ucrânia vivam em paz e harmonia, e que as comunidades católicas do país contribuam para isso de modo que seja visível cada vez mais a nossa fraternidade cristã.
28.       No mundo contemporâneo, multiforme e todavia unido por um destino comum, católicos e ortodoxos são chamados a colaborar fraternalmente no anúncio da Boa Nova da salvação, a testemunhar juntos a dignidade moral e a liberdade autêntica da pessoa, “para que o mundo creia” (Jo 17, 21). Este mundo, onde vão desaparecendo progressivamente os pilares espirituais da existência humana, espera de nós um vigoroso testemunho cristão em todas as áreas da vida pessoal e social. Nestes tempos difíceis, o futuro da humanidade depende em grande parte da nossa capacidade conjunta de darmos testemunho do Espírito de verdade.
Testemunhas da verdade
29.       Neste corajoso testemunho da verdade de Deus e da Boa Nova salvífica, possa sustentar-nos o Homem-Deus Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador, que nos fortifica espiritualmente com a sua promessa infalível: “Não temais, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino” (Lc 12, 32).
Cristo é fonte de alegria e de esperança. A fé n’Ele transfigura a vida humana, enche-a de significado. Disto mesmo puderam convencer-se, por experiência própria, todos aqueles a quem é possível aplicar as palavras do apóstolo Pedro: “Vós que outrora não éreis um povo, mas sois agora povo de Deus, vós que não tínheis alcançado misericórdia e agora alcançastes misericórdia” (1 Ped 2, 10).
30.       Cheios de gratidão pelo dom da compreensão recíproca manifestada durante o nosso encontro, levantamos os olhos agradecidos para a Santíssima Mãe de Deus, invocando-A com as palavras desta antiga oração: “Sob o abrigo da vossa misericórdia, nos refugiamos, Santa Mãe de Deus”. Que a bem-aventurada Virgem Maria, com a sua intercessão, encoraje à fraternidade aqueles que A veneram, para que, no tempo estabelecido por Deus, sejam reunidos em paz e harmonia num só povo de Deus para glória da Santíssima e indivisível Trindade!
Havana (Cuba), 12 de fevereiro de 2016.
Via: Rádio Vaticano

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Dia da Independência do Vaticano

Hoje 11 de fevereiro é feriado nacional no Vaticano, dia da independência da Cidade Estado que tem o Papa como seu Soberano. O Vaticano conseguiu sua independência no dia 11 de fevereiro de 1929 com a assinatura do tratado de Latrão.


sábado, 6 de fevereiro de 2016

O zika vírus e a reascensão da eugenia

Muito antes de juristas brasileiros virem em defesa do aborto de microcefálicos, Adolf Hitler já os tinha incluído em seus programas de extermínio.



Não é novidade o pedido que alguns juristas e acadêmicos de Direito farão à Suprema Corte brasileira, requerendo um suposto "direito ao aborto" de crianças com microcefalia. Na década de 1930, na Alemanha, o programa nazista de extermínio de crianças deficientes (a Kinder-Euthanasie) incluía, entre as doenças genéticas passíveis de execução, a síndrome de Down, a paralisia, a hidrocefalia e, também, a microcefalia [1]. A princípio, o objetivo era matar as crianças com até 3 anos de idade. Mais tarde, o plano de Adolf Hitler se estenderia também aos adultos.
Certamente, Ana Carolina Cáceres – a brasileira de 24 anos, portadora de microcefalia, que se graduou recentemente em jornalismo – não teria sobrevivido ao regime nazista. Como ela, tampouco teriam passado as irmãs Ana Victória (16) e Maria Luiza (14), também portadoras da síndrome. Fossem concebidas hoje, porém, a vida dessas mulheres estaria em risco muito mais cedo: elas poderiam ser descartadas antes mesmo de nascerem.
Fora ou dentro do útero, no entanto, meses ou anos depois da concepção, são realidades meramente circunstanciais. Nada disso muda a essência do que os promotores do aborto, aproveitando-se do pânico gerado em torno do zika vírus, pretendem advogar junto ao Supremo Tribunal Federal: a ideia de que alguns seres humanos são mais dignos de viver do que outros.
O nome disso é eugenia.
Dar um novo nome às coisas não altera a sua substância, pelo que "saúde reprodutiva", "direito de escolha" e "controle de natalidade" não passam de eufemismos construídos para disfarçar a realidade.
Nem pode mudá-la o fato de algumas pessoas aparentemente esclarecidas estarem do lado de lá. Na verdade, quando o eugenismo surgiu na Europa, ainda no final do século XIX, muitos nomes de peso também deram sua aprovação à ideia, chegando a defendê-la pública e notoriamente: Winston Churchill, H. G. Wells e Bernard Shaw são apenas alguns exemplos. Francis Galton, um homem inteligente, responsável por cunhar a expressão "eugenia", chegou a falar dela como uma espécie de "nova religião". O entusiasmo pela coisa só pareceu cessar após a Segunda Guerra Mundial, quando as pessoas viram a que tudo isso realmente levava: pilhas de cadáveres em campos de concentração.
A essência dessa forma de pensamento, todavia, não está por trás só do pedido do aborto de microcefálicos, mas de todo o movimento pela legalização do aborto.
Como se sabe, o problema de quem defende essa prática não é com esta ou aquela má formação específica. Seja sob um viés feminista – como o defendido pela antropóloga Débora Diniz –, seja sob uma ótica aparentemente social – como a colocada pelo dr. Drauzio Varella –, o que se pretende é oaborto total, sem exceções. Por isso, perderíamos muito de nosso tempo tentando defender apenas os fetos microcefálicos quando, na verdade, quem está ameaçado em seu direito à vida são todos os nascituros, portadores ou não de microcefalia, sem ou com deficiência.
São eles as verdadeiras vítimas da eugenia moderna. Tratados como "cidadãos de segunda categoria" simplesmente porque não podem ser vistos – ainda que a ciência confirme a sua humanidade, desde a concepção. Considerados "indignos de viver" porque submetidos a uma liberdade total e irrestrita por parte da mulher – que deixa de arbitrar sobre o seu corpo para ter poder de vida e de morte sobre o próprio filho. Ameaçados, enfim, pelos próprios juristas e acadêmicos de Direito, que, passando por cima da lei natural e das leis de nosso país [2], deixam sem proteção a vida dos membros mais indefesos da nossa sociedade.
Tudo isso, aliado ao silêncio cúmplice de todos, forma um cenário que a humanidade já conheceu antes: tragicamente, os nossos tempos não são diferentes dos que precederam a barbárie nazista.
Mas, assim como algumas vozes se levantaram corajosamente contra a eugenia, antes mesmo que ela fosse aplicada na prática, também nós precisamos dar o nosso "grito" de alerta, antes que seja muito tarde. Como escreve o escritor britânico G. K. Chesterton, em seu livro profético Eugenics and other evils ("Eugenia e outros males"),
"A coisa mais sábia do mundo é gritar antes de ser ferido. Não é bom gritar depois, especialmente depois que você foi ferido de morte. As pessoas falam sobre a impaciência das multidões, mas os bons historiadores sabem que maior parte das tiranias só foi possível porque os homens reagiram muito tarde. Geralmente, é essencial resistir a uma tirania antes que ela exista. E não é resposta alguma dizer, com um vago otimismo, que a conspiração apenas está no ar. Um golpe vindo de um machado só pode ser evitado enquanto ainda está no ar." [3]
Por enquanto, parece que a conspiração está apenas no ar. Mas, de notícia em notícia, já é possível antever o golpe de machado que se aproxima de nossas cabeças. O alvo, leitor, são homens e são mulheres, são pobres e são ricos, são brancos e são negros – em suma, são os nossos filhos. Se não lutarmos por eles, ninguém o fará por nós.
                                                                                                       Via Equipe Christo Nihil Praeponere